Por: Carlos Sá
Aparentemente, estamos perante um paradoxo: pessoas com ensino superior, acesso a informação de qualidade e poder económico, as mesmas que deviam compreender o valor da ciência, estão entre as que mais recusam vacinar os filhos.
Mas parece-me que o verdadeiro paradoxo é outro: confundir escolaridade com entendimento científico.
Ter um diploma não é o mesmo que dominar o método científico, nem garante imunidade à desinformação. E neste tema, o que está em causa não é uma “opção pessoal”: é uma decisão com impacto coletivo.
As vacinas são, sem margem para dúvida, uma das maiores conquistas da medicina moderna. Erradicaram doenças como a varíola, reduziram drasticamente o sarampo e a poliomielite, e continuam a salvar milhões de vidas todos os anos. Nenhum outro avanço em saúde pública teve um impacto tão vasto, tão duradouro e tão comprovado.
O rigor com que uma vacina chega ao mercado é extraordinário: são testadas durante anos, em várias fases clínicas, com dezenas de milhares de voluntários; são monitorizadas continuamente mesmo após a aprovação; estão sujeitas a revisões independentes e escrutínio público constante.
A probabilidade de uma reação adversa grave é inferior a 1 em 1.000.000. A probabilidade de morrer de uma doença prevenível por vacina é milhares de vezes maior. Ainda assim, há quem prefira “investigar por conta própria” em fóruns e vídeos de YouTube. Isso não é pensamento crítico: é pseudo-esclarecimento.
É a ilusão de quem confunde opinião com conhecimento e desconfiança com inteligência. Recusar vacinar um filho não é um ato de autonomia: é um ato de irresponsabilidade travestido de liberdade de escolha. Porque essa escolha não afeta apenas quem a faz pois coloca em risco bebés, idosos, doentes imunocomprometidos e todos aqueles que dependem da imunidade coletiva. A verdadeira liberdade só existe quando é acompanhada de responsabilidade. E a verdadeira educação só se cumpre quando reconhece o valor da evidência científica.
As vacinas salvam vidas e quem o nega, por muito “escolarizado” que seja, está simplesmente a fechar os olhos ao que a ciência tem de mais sólido: factos, não opiniões.